Era um fim de tarde frio, nublado e úmido. Daqueles típicos paulistanos. A Rua Vinte e Quatro de Maio estava repleta. Já eram quase cinco e trinta da tarde e as pessoas estavam saindo apressadamente de seus serviços, dirigindo-se, em sua maioria, à Praça da República ou ao Vale do Anhangabaú. Mas não Jorge. Ele ia em outra direção.
Antes, na hora do almoço, o jovem operador de telemarketing mulato de vinte e cinco anos, duas filhas, uma esposa e um apê financiado em São Miguel Paulista havia encontrado com André, um companheiro da universidade. Fazia sol, mas já prenunciava o frio. O restaurante, um desses gordurentos padrão do centro em que Jorge havia almoçado não fora o lugar. Também não foi nas ruas sujas onde ele passeia depois do almoço. Foi, na verdade, um encontro despropositado.
Jorge, descendo pelo outro lado da praça, encontrou um café muito bacana, desses chiques, e resolveu que hoje ia gastar um dinheiro num cafezinho bom. Ele não faz isso sempre, claro. O dinheiro que ele e sua esposa ganham, mal dá pra pagar o financiamento do apartamento e sobrar para as compras do mês. O que acontece é que hoje Jorge se sentia particularmente deprimido e desiludido. Depois de mais de um ano na empresa, pensava que ia ser promovido ou pelo menos ter uma melhora no salário, mas não. Quando falou com o gerente nessa manhã, ele consultou o sistema e, então, negou sumariamente o aumento com um sorriso irônico no canto do rosto e um “Vá Trabalhar” logo depois. Porém, por coincidência dessas que o jovem mulato apelidou de “coincidências intencionais”, Serginho, branco, dezenove anos, sem filho e que vive com os pais no Tatuapé acabou sendo promovido supervisor da seção e agora seria o chefe de Jorge. Ele imaginava se o sistema havia indicado que essa ação era melhor para a empresa.
E, por isso, Jorge entrou naquele lugar chique. Era uma espécie de consolo. Ou talvez, de revolta pessoal. Pediu um expresso e um pão de queijo e no caixa lhe pediram todo o dinheiro que tinha em sua carteira. “É melhor esse negócio ser bom mesmo.”, apesar de que a música clássica de fundo, as poltronas e o ar condicionado já pudessem valer aquele preço. Sentou-se confortavelmente, meio sem jeito, numa das poltronas e aguardou que a mocinha trouxesse seu pedido. Ficou ali, apreciando as pessoas com seus ternos e gravatas, seus sapatos lustrosos e celulares modernos. Todos pareciam estar sorrindo, como que em um ritual pós-almoço cotidiano. Todos pareciam incomodamente felizes. Foi aí que ele se surpreendeu. Uma pessoa de uma outra mesa o encarou e se levantou. Veio em sua direção e parou em pé ao lado da mesinha enquanto a mocinha servia o pedido de Jorge. Jorge ficou meio sem jeito e o rapaz quebrou o gelo:
- Boné, é você? - Boné era o apelido de Jorge no tempo da faculdade. Haviam dado esse apelido para ele no segundo ano por que ele sempre estava de boné. Ninguém soube que o boné foi por causa e um acidente que ele teve quando a casa do pai dele desabou no barranco e ele quase morreu. Teve vários pontos na cabeça e até hoje a cicatriz. Mas eram bons tempos aqueles da universidade. Foi o tempo na vida de Jorge em que ele ainda acreditava no mundo. Diziam que menino pobre tinha que se esforçar pra entrar na pública. Ele não foi um desses. Entrou numa particular meia boca que mal conseguia pagar. Mas ia conseguir vencer na vida assim mesmo. Ah, como ele era tolo naquela época. O rapaz continuou: - Claro que é você. Tenho certeza. Como era mesmo seu nome… Jorge, não é?
- Isso, isso mesmo! - Disse Jorge enquanto colocava açúcar em seu cafezinho. - E você? Quem é?
- Sou o André... Da universidade, lembra de mim? - Jorge se lembrava vagamente dos amigos da faculdade. Quando estava no penúltimo ano sua filha nasceu. Foi quase por milagre que conseguiu concluir o curso. Então, resolveu fingir:
- Claro, claro que me lembro. Senta aí.
- Cara, a quanto tempo! Nunca mais te vi. O que aconteceu contigo?
- Sei lá cara… Trampando, trampando e trampando mais. Duas filhas pra criar é osso.
- Puta merda! Meu, duas filhas já? Que coisa... E onde ‘cê ‘’tá trampando?
- Na Falasse… Telemarketing ativo.
- Cara, que bosta. Justo você? Lembro que você era um dos melhores nos tempos de facu. - Ver o outro rapaz menosprezar seu trabalho só o deixou mais para baixo. Então olhou. André vestia um terno bonito, caro, com colete, gravata e sapato lustroso. André pertencia a esse lugar. Jorge não.
- A vida parece ter sorrido pra você então, né? - Disse Jorge, tentando mudar o assunto.
- Mais ou menos isso. Tenho uma filha, mas agora moro em Higienópolis. Vim aqui no “centrão” hoje visitar um cliente, mas não aguento mais essa vida. Só que tive que mandar embora meu representante comercial daqui dessa região e não teve outro jeito. Tive que vir para cá.
A verdade é que depois de ouvir “Higienópolis”, Jorge não prestou muita atenção nas outras coisas. “Caramba! Hi-gi-e-nó-po-lis! Só as elites!” É quase como se fosse o sonho do próprio Jorge. Sem querer, esses pensamentos foram ficando em voz alta e Jorge disse:
- Só falta você dizer que é o dono da empresa…
- Sou, sou sim. - Respondeu André. - Com outros dois sócios. Montamos a empresa com uma ideia que tivemos no último ano da facu. Lembra daquele monte de porcarias que comíamos naquele tempo? - “Como esquecer! Comi uma porcaria assim ainda hoje”, mas se conteve e apenas afirmou com a cabeça e deu mais uma golada no cafezinho. - Então... Numa dessas, num desses botecos, encontramos com o Telório da turma de economia. Ele tava fazendo o trabalho de graduação e o Dennis e eu colamos nele. Era um método automatizado para gestão de empresas. Cara, recebemos um financiamento gigante pra por a ideia no ar. Um ano depois da graduação recebemos nosso primeiro cliente grande. E essa é a história da DANTE.. Já ouviu falar? - Se Jorge já tinha ouvido falar? A própria Falasse era cliente da DANTE.
- Você tá brincando, né? Quer dizer… “A” DANTE Consulting?
- É meu caro... DANTE é uma junção do começo dos nossos nomes. A ideia deu tão certo que já tem dois anos que saímos do país. Hoje, além de termos uma boa amplitude no mercado nacional, também vendemos para Peru, Venezuela, Colômbia, Paraguai, México e, mês que vem, estaremos no mercado americano. - O jovem operador de telemarketing ficou estupefato. Era impressionante.
- Tá… Mas como vocês fazem? O software de gestão de vocês eu já vi na Falasse. Ele é impressionante! Trava indicadores desde a operação até os níveis estratégicos! Inclusive, creio que hoje não recebi um aumento por causa desse sistema estúpido.
- Ei, vai com calma… A Falasse nem é nosso melhor cliente. O sistema dele está mal configurado e eles pagam somente o plano básico. Mas em clientes melhores, a gente vê a “mágica” funcionar.
- Legal cara. Legal mesmo! Olha… Eu tenho que ir. Já passou do meu horário do almoço, e…
- Não, não, eu entendo… Mas Jorge, por que você não faz o seguinte… Passa lá no nosso escritório daqui do centro depois do trabalho pra a gente bater um papinho…
- Não vou poder - respondeu Jorge meio instintivamente…
- E por que? Olha… Vai ser uma oportunidade de ouro. Poderemos conversar um pouco… Quem sabe eu não te ajudo a sair dessa vidinha?
- Mas…
- Cara. Aparece lá. Às seis da tarde. - O jovem engravatado retirou um cartão da carteira, onde dizia “André Nunes - Diretor Comercial”, e o logo da DANTE, além de um número de celular e uma direção na Rua Sete de Abril.
- Tá bom, vou ver se consigo. Às seis, né?
- “Vou ver se consigo”? Jorge, a oportunidade não vem assim para todos. Aparece por lá.
Jorge concordou com a cabeça e apertou a mão de André antes de sair apressadamente pela porta comendo o último pedacinho de seu pão de queijo.
O operador de telemarketing tinha orgulho. Tinha brio. Entendia que as coisas não tinham saído tão bem em sua vida, que passava agora por um momento de complicações, de turbulência (como se ele já houvesse voado de avião para entender essa metáfora), mas que ia conseguir se levantar. E, além de seu orgulho, a arrogância e prepotência do antigo amigo da faculdade era impressionante.
Porém, estava cansado. Cansado de lutar uma luta desleal, cansado de se deixar ser empurrado pela vida. Cansado da pinga barata da padaria, da cerveja com gosto de mijo, da televisão velha, do celular velho, do carro acabado, das contas vencidas. E foi esse cansaço que fez com que, ao invés de dirigir-se para o metrô República como fazia todos os dias, estava indo na direção daquele cartão. Ligou para a esposa e disse que não demoraria, que ia ver uma oportunidade de trabalho. Teve que escutar Luciana de oito anos pedindo que o pai trouxesse um chocolate e Larissa de três chorando de fome antes de desligar.
Foi assim que chegou ao prédio reformado às cinco para as seis. Ao entrar, no saguão, notou que quatro dos cinco andares era da DANTE. “Uau!”, pensou ele. Foi à portaria e falou com o recepcionista que rapidamente se comunicou com outra pessoa que autorizou a subida. Após o registro e o elevador, chegou a outra recepção no quarto piso. A atendente já estava de saída e pediu a Jorge que aguardasse que o André já viria falar com ele.
Após longos e tediosos minutos folheando uma revista de negócios, André saiu de uma sala com um senhor oriental e uma senhora magrela. Se despediu deles e ao fechar a porta, veio na direção de Jorge.
- Fala meu amigo. Que bom que veio. Desculpe-me a demora. Me acompanhe por favor. - Jorge apertou a mão de André e o seguiu até a sala indicada. Uma sala de reuniões grande, com uma mesa comprida e várias cadeiras ao redor. Na lousa era possível ver alguns gráficos e rabiscos feitos na última reunião. Se sentaram e, sem aguardar, André seguiu:
- Jorge, sei que pode parecer agressivo, mas qual seu salário atual?
- Ah, relaxa. Não é tão “agressivo” assim. - Mas Jorge se sentiu sim um pouco incomodado com a pergunta. - Ganho mil quatrocentos e cinquenta reais. Registrado.
- Por mês? - André pareceu um pouco indignado. Ainda assim, Jorge respondeu:
- Sim, por mês.
- Tá. Você tem alguma experiência no ramo de cobrança?
- Bom… Trabalho com Telemarketing Ativo no momento, mas não, não tenho experiência com scripts de cobran… - André o interrompeu
- Não, não. Quero dizer no ramo de cobranças presenciais.
- Você diz recebendo clientes para negociação?
- Mais ativo, na verdade. Visitando clientes não pagadores.
- Não. Não tenho nenhuma experiência.
- Bem… O que me diz de fazer um teste? Simples assim. Você vem comigo e faz a cobrança. Se fizer bem o trabalho e gostar, o emprego é seu. Senão, é só ir embora.
- ‘Tá, mas qual o salário?
- Não trabalhamos com salário para esse serviço. Na verdade, não estou contratando alguém para a DANTE, mas sim para uma das minhas atividades “paralelas”. O pagamento é por comissão. Para esse trabalho, se você conseguir que o cliente pague o que deve, te pago dez por cento do valor. - Jorge olhou desconfiado.
- E estamos falando de quanto exatamente?
- O valor devido nesse caso é de duzentos e cinquenta mil reais. Se você conseguir o pagamento, vinte e cinco mil são seus. O que me diz?
Jorge sabia que deveria ser algo ilegal. Sabia que iria por em risco sua vida. Mas o dinheiro era bastante. Era mais do que ele ganharia em dois anos. Nem hesitou:
- Feito. Mas gostaria de saber um pouco mais do que se trata e,... - Interrompido mais uma vez.
- Não! Quanto menos você souber, melhor. - Levantou-se. - Vamos?
- Já!?
- Sim, já! Seu “teste” está na Rua Santa Ifigênia e só estará lá até as oito da noite. - Já eram dez para as sete. - O tempo urge.
Jorge refletiu um pouco mais, mas notou que não tinha mais volta. Foram.
Seguiram pelas ruas sujas do centro, com sua população de mendigos e beberrões, com seus cine-pornô e trabalhadores, com o cheiro de esgoto e fumaça e viraram a esquina da Ipiranga com a Santa Ifigênia apressadamente. foi então que André diminuiu um pouco o passo.
- Jorge, de outras vezes espero que venha melhor vestido. Mas para o trabalho de hoje vai servir. ‘Tá vendo aquele prédio? - E apontou para um cor de creme, antigo. Sem esperar resposta, prosseguiu: - Suba pelas escadas até o segundo andar. Vá até a sala vinte e três e procure pelo Marcão. Ele tem uns trinta anos, quase da sua altura, cicatriz no lado esquerdo do rosto. Suba e me traga a maleta com o dinheiro. Esperarei aqui. - André olhou ao redor e puxou um canivete longo de seu bolso. Entregou para André. - Mais uma coisa. Além da maleta, preciso de um dedo dele como juros do atraso.
O rapaz olhou assustado. Pegou o canivete meio que por instinto, mas balançou a cabeça.
- Cara, como assim arrancar um dedo? ‘Cê ta louco?
- Guarda esse canivete seu animal! - Agrediu André. - Vai senão eu chamo os guardas ali na próxima esquina e falo que você ta tentando me assaltar. Agora vai! Vai logo! E nem pense em fugir com o dinheiro senão eu acabo com tua raça, mané.
Jorge se afastou meio de costas, e saiu. Sentiu-se com muito medo, acuado e quase chorando. Sentia-se mal, estômago embrulhado, ânsia de vômito, suava frio. Caminhou olhando para todos os lados e todas as direções. Pareceu uma eternidade mas, por fim, chegou ao prédio.
Subiu as escadas zonzo, brincando com o canivete no bolso. Olhou as portas no segundo andar. “vinte e sete, vinte e cinco, vinte e três. Fácil demais encontrar.”, refletiu ele. Respirou fundo e, vendo que não havia mais como sair dessa, pensou no dinheiro, Pensou em sua filha passando fome. Pensou em poder pagar uma escola para cada uma, em terminar o financiamento da casa. Pensou em sua esposa, em suas frustrações. E, sentiu uma força que não possuía antes. Um grito de frustração, de rancor, de ódio com a sociedade. Bateu forte na porta com o cabo do canivete.
- Já vou. - Escutou do outro lado.
Bateu forte novamente.
- Que inferno, já vou! - Escutou outra vez. Jorge Estava ansioso. Estava suando frio, era uma sensação vertiginosa. Não sabia se fugir ou se esperar a porta abrir. E no momento de dúvida, as trancas da porta começaram a mover-se. Quando a terceira e última tranca foi retirada e ele viu a maçaneta girar, sem pensar duas vezes, com o canivete ainda na mão, Jorge Impulsionou o corpo para trás e em seguida para frente, levantando o pé até o meio da porta e dando um coice violento. Ela bateu na cara do homem atrás dela, que soltou a maçaneta e caiu encostando na parede. Jorge segurou a porta no retorno e empurrou mais uma vez para frente, abrindo-a. Viu estatelado no chão o corpo do moço da cicatriz. Havia desmaiado com a pancada na cabeça. Invadiu o apartamento e viu que o rapaz trabalhava com algo relacionado com computadores. Pensou rapidamente virando os olhos e viu vários cabos de rede azuis e outros negros. Pegou alguns e amarrou as pernas e os braços do rapaz. Ainda inseguro e ofegante, arrastou-o e sentou-o com dificuldade na cadeira, amarrando também o pescoço ao encosto.
Fechou a porta assustado, quase chorando. Respirou fundo e pensou “Meu Deus, o que estou fazendo?” Olhou ao redor e buscou uma jarra com água que estava na micro cozinha do apartamento. Jogou a água na cara do homem da cicatriz. Ele despertou assustado.
- Marcão? - Disse tentando soar amedrontador, mas na verdade parecendo um medroso. - O-o André mm-me mandou aqui. Me entrega a maleta.
- Cara, o que é isso? Você invade a minha casa e… - Assustado, Jorge falou num tom quase sombrio.
- Fala logo onde está que eu vou embora. Não fala e - Abriu o canivete. - e… e eu fico.
- Seu puto! A maleta ta ali. - Apontou o com o queixo. - Minha testa ta sangrando seu imbecil. Isso não vai ficar assim! Pensa que eu não guardei seu rosto? Guardei sim! Isso não vai ficar assim! Você vai ver!
Jorge pegou a maleta e hesitou. Precisava concluir o trabalho. Tremia com o canivete na mão. O outro soltava imprecações e xingamentos. A garganta presa no encosto da cadeira estava vermelha. Ele não sabia como arrancar um dedo. Ficou com medo do cara se mexer. Mas lembrou da sua filha chorando. Das noites sem dormir, das dificuldades da vida. Da conta no vermelho no banco. Deu uma pancada bem forte na cabeça do Marcão, sem pensar. Desacordou o rapaz novamente. Pegou um trapo e enfiou na boca dele para que não gritasse. Amarrou as mãos ao encosto da cadeira e passou outro cabo na barriga do cara amarrando-o à cadeira ainda mais forte. Analisou o fio do canivete e viu que era bem afiado. Pegou o dedo indicador da mão esquerda, o que parecia mais fácil de pegar, passou a lâmina por entre o médio e este dedo e girou, puxando, cortando o dedo bem na junção com a mão. Puxou freneticamente, serrando o dedo e conseguiu arrancá-lo. Tudo estava escuro, silencioso e, de uma só vez, ouviu o grunhido do outro homem. Um som seco, abafado pelo pano na boca, com lágrimas nos olhos. O sangue escorria de onde o dedo fora arrancado. O rapaz se debatia enquanto lutava contra os cabos e contra o pano dentro de sua boca. Num momento de pena, tremendo muito, Jorge, chorando, pegou um pano de prato e colocou nas mãos amarradas do outro homem, tapando o sangramento. Mostrou o dedo para ele e, sem saber o que dizer, apenas pronunciou aquela palavra que nunca mais esqueceria:
- Obrigado!
Saiu do apartamento deixando Marcão lá, amarrado, em situação deplorável. Quis se importar com ele, mas não podia fazer mais nada. Saiu e, quando chegou ao térreo, se deu em conta que havia carregado o dedo ensanguentado na mão e o canivete aberto na outra. Se encontrou com André que rapidamente se aproximou.
- Fecha isso seu babaca. Entra aqui! - E abriu uma porta de uma pequena sala no fundo do corredor. Eles entraram. André pegou o dedo da mão de Jorge e guardou num lenço que tinha no bolso. Abriu a maleta e conferiu visualmente o dinheiro. Retirou ali mesmo, num quartinho no meio da Rua Santa Ifigênia vinte e cinco pacotes de notas de cem.
- Tome. Aqui está sua parte. Parabéns. Está contratado. Apareça no escritório amanhã para os detalhes de nosso acordo. Vista um terno negro, camisa branca e gravata negra. Sapatos lustrados. Ah, e chegue bem cedo. Agora vá embora. E pode ficar com o canivete de brinde.
Jorge ficou vendo André sair do quartinho com a maleta, indo embora apressadamente. Guardou o dinheiro como pode, espalhando em partes de suas roupas e saiu.
Parou no primeiro boteco que encontrou e pediu um bombeirinho e depois outro. Quando chegou em casa, já era tarde. Beijou suas filhas, sua esposa e foi se banhar. Chorou pelo que fez e pela visão do desespero do outro homem mas, estranhamente, sentia prazer nisso. Um prazer estranho, sórdido. Uma realização por haver conseguido realizar a tarefa, um orgulho pelo dinheiro conquistado. Dormiu e teve bons sonhos nessa noite.