quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Trajetos incertos



 São tranquilos os trajetos que se passa
sem notar margens, lados ou calçadas.
Porém, basta olhar mais aguçado,
para calma tornar-se descompasso.

É tragédia de carne, fel e sangue
o que faz da estrada rua e asfalto.
E riqueza alguma faz-se falta
Onde pisa e transita essa gangue.

Mas esperto é quem tem paz no assalto,
quem de pé não se cansa, dissimula
e se sai sem um passo nem ressalto.

Pois o mundo só gira e não emula
e tranquilo só quem fica exausto,
para, queima e morre sobre a mula.


Crédito da foto: Kaique Rocha

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Corroído

 


Dói por dentro esse sentimento!
É prisão, falsidade, estremecimento,
é poético e sensível, é falso e nojento.

Queria fugir e errar, sair de mim.
Mas impossível é sair assim
dessa armadilha sem fim.

Dias passam em rotina e como destino
minha alma se desfaz e se corrói em desatino
recriando durante a noite meu vazio matutino

Fosse minha manhã mais bela,
minha tarde não seria cavalo sem sela
e não prenunciaria noite sem estrela.

Mas não há mudança nesse paradigma insólito,
não há cadência que pare esse som mórbido
e não existe meio para acabar com esse óbito.

Parece que não há saída dessa esguia trilha,
não há como fugir dessa matilha,
não há alternativa, túnel, ponte ou escotilha.

Há somente o vazio e a repetição
da incessante dor em ebulição
e da sensação de temor e aflição.