quarta-feira, 27 de abril de 2016

Durma, meu filho



Durma, meu filho,
Durma e veja o mundo,
Caminhe como um andarilho
Durma, durma mais um segundo

Deixe a tristeza, e deixe a dor
Abandone a miséria, segure minha mão
Durma, durma, durma...

Acalme seu coração
E siga a esperança
Deixe do mundo a confusão
E pinte sonhos de criança

Deixe a tristeza, e deixe a dor
Largue a miséria, segure minha mão
Durma, durma, durma…

Seja um príncipe, seja um cavaleiro
Cante com as aves, voe com os anjos,
Em seus sonhos, seja seu passageiro
Navegue no mar, e em seus desarranjos

Deixe a tristeza, e deixe a dor
Esqueça a miséria, segure minha mão
Durma, durma, durma…


segunda-feira, 18 de abril de 2016

Erro Meu



Um dia pensei ser o amor luz e magia
E quis ter um só pra mim, sem compartir!
Sonhei eu, seria ele sem fim, sem algia,
Sem dor ou desterro, somente sentir.

Sonhando vivi uma vida fingida,
Com falsa alegria, e um falso existir.
E nessa história com zelo erigida,
Vivi em solidão em meio ao ressentir.

Em tempo larguei essa vida sofrida
Viajei, conheci, me entreguei a entender-me.
Ao invés de amar, busquei curar a ferida.

Andei, encontrei, deixei a vida vencer.
E sôfrego, vívido, só, à deriva
Achei o que queria: puro e simples bem querer.

terça-feira, 5 de abril de 2016

O Cobrador - Parte IV


Links para as partes anteriores:

Parte I
Parte II
Parte III

Era uma tarefa simples: Esperar os funcionários saírem, entrar, receber o pagamento e sair. Caso o pagamento não fosse realizado, “negociar”. Cleber entrou no prédio às 20:00. Era um desses grandes edifícios das Nações Unidas e precisou usar uma identidade falsa para entrar. Subiu até o vigésimo andar e entrou na Dope’s RH. A recepcionista usava um terninho simples, preto, com uma camisa com um belo decote.

- Boa noite senhor… Éverson - Esse era o nome falso na identidade de Cleber. - O Doutor Anderson já irá atendê-lo.

- Claro. - Respondeu e se sentou. Pegou uma dessas revistas de vitrines de empregos e começou a folhear. Cleber se sentia cansado. Ficou lembrando do último sábado. Foi um dia importante em sua vida. Sua filha mais nova, Larissa, havia se casado. Desde que se formara em veterinária pela PUC de SP esteve empenhada em montar seu consultório e se apaixonara por Ricardo, jovem psicólogo com quem Cleber tivera muitas conversas saudáveis nos últimos anos principalmente com respeito ao gosto dele por drinques diferentes. Começaram provando os preparados com cachaça e vodka, especialidades de Cleber nos últimos anos, mas logo o próprio Ricardo trouxe drinques com Gim e começaram a preparar, nos fins de semana, drinques diferentes para todos na casa. Era uma sensação. No casamento haviam contratado um barman muito conceituado para a festa. Mais que o casamento de sua segunda filha, era um amigo que estava casando. Isso era uma honra e uma alegria muito grande.

Durante os últimos vinte e quatro anos, ele havia passado por quase tudo que uma carreira promissora e ascendente como a sua poderia apresentar. Ele ameaçou, aterrorizou, torturou, mutilou e matou pessoas para cumprir suas obrigações. Recebeu e bem por cada trabalho que realizou, é verdade e, com isso, obteve um bom status financeiro para sua família. Agora, além do apartamento no Jardim Anália Franco, tinha outros doze que alugava em vários locais na cidade e um apartamento no Guarujá, além de uma casinha em Campos do Jordão. Era uma vida invejada por muitos. Luciana, sua filha mais velha, havia se tornado uma médica neurocirurgiã renomada, fazendo agora uma especialização em estudos avançados de hidrocefalia. Se casara com um bom marido que, embora não tão amistoso como Ricardo, era uma pessoa agradável e um empreendedor que trabalhava com aquisições de empresas tanto aqui no Brasil como no exterior, inclusive com algumas empresas de Venture Capital do Vale do Silício nos E.U.A. Fabíola, sua esposa, era uma senhora linda e inteligente. Havia voltado ao ramo hoteleiro depois que as filhas se formaram, e hoje era administradora de três grandes hotéis de uma franquia de renome internacional. Cleber a impulsionou bastante de início mas depois se tornou algo desnecessário. Agora, ela já estava engajada e não queria mais parar. Porém, cobrava de Cleber que seu trabalho na área de cobranças do banco de investimentos, apesar de rentável, era muito cansativo e que ele lucraria muito mais em ajudá-la com os hotéis.

E, por mais que ele gostasse do que fazia, já se sentia cansado. Queria se aposentar. A DANTE, porém, já havia negado por duas vezes seu pedido de aposentadoria, alegando não conhecer alguém que fizesse o trabalho tão bem como ele fazia. Não parecia haver solução para esse problema. Em meio a esses pensamentos, A recepcionista o chamou.

- Senhor Éverson, o Doutor Anderson pediu para que vá à sala quatro.

- Obrigado.

Lentamente se encaminhou para a sala, onde encontrou um senhor idoso, em cadeira de rodas em uma mesa grande, de vidro. Também estava presente uma garota vestida de vermelho. Enquanto o senhor tinha por volta de seus cinquenta anos, ela devia ter uns 25 anos, os olhos levemente puxados. Pelas feições, deveria ser boliviana ou peruana talvez.

- Entre, feche a porta e sente-se, por favor. - disse Doutor Anderson. Cleber se sentiu um pouco constrangido pela ordem. Também lhe deixava desconfortável a presença da mulher no recinto. Mas atendeu ao pedido e se sentou.

- O senhor é aquele conhecido como O Cobrador, não? - Cleber levantou a sobrancelha para o senhor na cadeira de rodas.

- Sim. Você tem o pagamento?

- Sim. Aqui está. - E apontou para a garota.

- Pois me entregue. Acabemos com isso.

- Você está com pressa, não? Pois bem. Ariela, acompanhe o jovem rapaz.

A garota se levantou e disse com um sotaque latino carregado:

- Vamos? - Sem entender nada, o cobrador pegou seu celular e olhou a missão novamente. Dizia simplesmente “Pegue o pagamento. Caso não seja entregue, negocie.” Isso era muito lacônico. Apesar de algumas vezes o deixarem na mão com relação a algumas informações, nunca algo assim tão sem sentido. E ele nunca antes havia deixado algo assim passar. Sentiu-se perdido.

- Senhor Anderson, não entendi. O que o senhor está insinuando, mais precisamente? - O doutor o olhou confundido.

- Senhor cobrador, agora quem não entende sou eu. O senhor é o cobrador da DANTE, não? - Cleber respondeu meneando a cabeça. - E o senhor veio pegar o “pagamento”, não é? - O homem gesticulou as aspas com as mãos.

- Sim, mas…

- Então. Aí está. Ela é nova, vinte e cinco anos apenas. Cabelos longos e olhar atraente. Está apta para o serviço.

- Mas… Isso é novidade. Nunca levei uma pessoa como pagamento de nada. Alguém deve haver se enganado e…

- Não. Tenho absoluta certeza de que esse é o pagamento. Se houver qualquer problema pode me contatar aqui amanhã pela manhã.

O Cobrador não soube o que fazer e resolveu entrar no jogo. “Vamos ver até onde isso vai”, pensou ele.

- OK. Então vamos… Ariela?

- Si! - disse a garota.

Com um meneio breve com a cabeça, ele se despediu do Doutor Anderson. Passou pela recepção e chegou aos elevadores. Ao chegar ao térreo, seguiu caminhando, a garota atrás. Ela então perguntou:

- Donde está el carro?

- Estou a pé. - Respondeu sem parar de caminhar, com a garota atrás.

- Caminando?

- Sii, ca-mi-nhan-do! - Respondeu com ironia enquanto seguia pela Avenida das Nações Unidas.

A garota apertou o passo para chegar a seu lado e, quando já se aproximava, ele deu sinal para um ônibus que ia apenas passando.

Subiram.

- Você não tem um bilhete único, né? - Disse mostrando o seu.

- No.

A contra gosto, ele pagou a passagem para ela. Essa era uma de suas peculiaridades. Não gostava, por mais rico que houvesse ficado, de compartilhar a passagem. Andava de transporte público em suas missões. E sozinho. Sentaram-se num dos bancos próximos à porta de saída. Havia trânsito e assim que o ônibus saiu do corredor da Nações Unidas, estava tudo travado. Cleber, então, puxou seu celular e enviou uma mensagem a seu chefe:

“Já tenho o pagamento. O que faço agora?”

Em segundos veio a resposta:

“Leve para o Doutor Ambrósio. Endereço a seguir.”

E veio o endereço, um edifício na Rua dos Gusmões, no centro. Ele achou estranho. E ficou muito bravo consigo mesmo. Ele se lembrava de haver ido a alguma missão nesse endereço, mas não se lembrava bem de que ou para que. Como ainda havia trânsito, puxou assunto com a garota.

- De onde você vem mocinha?

- De Bolívia.

- De que cidade?

- De una pequeña villa cerca de Santa Cruz de la Sierra. Se llama San Julian.

- Longe, né?

- Señor?

- Looonge - e fez um gesto distanciando as mãos uma da outra.

- Si…

- E está aqui a quanto tempo?

- Llegué… hace siete dias…

- Nossa! Por isso ainda não fala português.

- No.

- No que? - perguntou confuso Cleber.

- No hablo portugues. Solo poquito.

- E o que você faz aqui?

- Señor?

- Errr… Você trabalha? Estuda? O que faz?

- Ah! Eu vine… mmm… Cuidar de mi família... - e pôs a mão na barriga. Cleber não entendeu direito o gesto, mas não soube o que perguntar. Meneou com a cabeça e ficou absorto, pensando em momentos de sua própria família na festa do último fim de semana.

Chegaram à estação Faria Lima do metrô e, mais uma vez, Cleber pagou a passagem de ambos. Desceram na Estação República e seguiram caminhando pela noite mal-cheirosa do centro sentido a Rua dos Gusmões. Enquanto seguia, se lembrou de sua primeira missão e riu. Como tudo havia mudado. Antes era atendente de telemarketing sem futuro e agora era um bem sucedido cobrador. Antes temia a quase tudo; todos agora o temiam. Mas de acordo se aproximavam do endereço indicado, foi diminuindo o passo. Então parou. A mocinha parou ao lado dele.

- Llegamos? - Perguntou ela

- Espere. Há algo errado. Como você veio ajudar a sua família?

- Eso. Ayudar familia. - E mais uma vez levou a mão até a barriga. Não fazia sentido. Andou um pouco mais e subiu por uma porta alta por onde seguia o endereço que lhe havia sido passado. Ele já havia estado nesse lugar. Não se lembrava mais quando. “Deve haver sido alguma cobrança simples.” Pensou ele.

Chegou até o terceiro andar do pequeno edifício com a garota em seu encalço. Bateu na porta 32.

- Quem? - Disse uma voz conhecida de dentro.

- O Cobrador.

- O que você quer? Não devo nada.

- Me pediram para fazer uma entrega aqui.

A porta se destrancou e um senhor já de idade, com uma verruga no rosto apareceu. Cleber se lembrou na hora. Havia vindo receber um dinheiro desse mesmo senhor a um tempo atrás. Ele pagou sem problemas e foi tudo muito rápido. Porém o cheiro do lugar era horrível, assim como agora. O velhinho olhou para trás de Cleber.

- É ela?

- Sim, mas antes preciso saber o que será feito.

- Isso não está no acor… - Sem esperar, Cleber empurrou a porta e entrou. O senhor carrancudo e baixinho estava sem calças e se via ridículo de cuecas e camiseta regata. A garota entrou tapando o nariz. O cheiro era mesmo terrível. Havia uma penumbra causada pela luz amarela no meio da sala e pela televisão velha ligada em algum canal qualquer. Era um cheiro de sangue, urina e pão mofado. Havia uma mesa metálica no meio do cômodo. O velho fechou a porta atrás deles. E se virou para a garota, ignorando por um instante o cobrador.

- Está aí? - E apontou para a barriga da garota.

- Si. Y mi família?

- Estarán bien. Tranquila. De cuanto tiempo estás? Parece de pocos meses...

- No. Son siete. como combinado. Pero la barriga sigue pequeña.

- Siete está perfecto.

Cleber se esforçou para escutar e, de um instante, entendeu o que se passaria. Enviou uma mensagem para seu chefe:

“Cheguei ao local com o pagamento. E agora?”

“Está liberado. O pagamento será transferido amanhã.”

- Senhor cobrador… Já viu o que queria? - Disse o intimidado velhote.

Era uma situação complicada. Ele havia entendido o que se passaria aí. Sob o pretexto de ajudar sua família de alguma forma, a garota ia passar por algum procedimento cirúrgico com esse senhor. Cleber já havia passado por muita coisa nesse trabalho. Mas nunca algo assim. Ele então relembrou vários momentos de sua carreira em que ele se sentiu bem por estar fazendo o que gostava e tentando fazer o que lhe pareceria correto. Agora era diferente. Ele não tinha nenhum prazer nisso. E não lhe parecia correto. Ele olhou para a garota de vinte e cinco anos. Larissa, sua filha, era apenas dois anos mais velha.

- Ariela, onde está sua família?

- No sé. Voy ayudar a ellos.

- No, no vas. No así. - Disse Cleber no melhor espanhol que conseguiu.

Ele agarrou o velho pela camisa e o olhou de forma amedrontadora. Lhe meteu um tapa na cara e depois outro.

- O que você sabe sobre a família da garota? Fale! Agora!!

- Eu não sei, eu não… aaaahhhhh - Esperneou o velho quando Cleber lhe deu um soco no meio do estômago e depois outro no lado esquerdo, enquanto ainda o segurava pela camiseta regata. - Para! Para! - Gritou o velho, mas Cleber não parou. Em meio à imundiçe, seguiu jogando o velhote no chão. Ele tentou se levantar, quando foi surpreendido por um chute na lateral da coxa esquerda. Cleber se abaixou e, com uma mão e toda sua raiva, levantou o velho do chão. Com a outra, ele deu outro murro forte, agora no baço. - Estão mortos. Todos eles. A mãe, a irmã e o pai. Morreram… Aiii… - Colocou a mão na barriga. Respirou. - Morreram quando vieram doar os órgãos. Eu não sabia que estavam doentes. Não resistiram.

- Seu safado! - Cleber tirou o facão. - E o que você ia fazer com ela?

- O bebê! Vale muito um bebê no mercado, sabia? - Mas eu posso te dar o dinheiro se você quiser…

- Seu filho da puta! Como seria capaz? Roubar o bebê dela e nem cumprir o acordo? Você ia matar ela também, seu desgraçado! - Cleber nem pensou mais. Pegou o homem pelos cabelos e levantou a cabeça. Passou o facão afiado pela garganta, cortando-a profundamente e largando o corpo no chão.

A garota começou a gritar e chorar. Enquanto ele limpava o facão na roupa do velho.

- Senhorita, controle-se. A noite não terminou. Me siga. - E saiu, sem dar explicações ou esperar. A garota veio gritando atrás dele.

- Que hiziste? Jesus, mi familia, mi familia!

- Estão mortos! Todos. Muertos! E lo mismo ia pasar con você - E apontou para ela. - E con su hijo! - E apontou para a barriga dela. - Ahora CALLATE! - Ainda processando a informação e todo o ocorrido, ela o seguiu chorando, mas sem gritar.

Subiram de volta para a praça da República e foram até o escritório da DANTE na Rua Sete de Abril.

- Espere-me aqui - disse à jovem.

Subiu até o quarto andar e passou pela porta rapidamente. A recepcionista, ainda estava trabalhando. Ele andou direto de encontro ao balcão da recepção.

- Senhor Cleber…

- Marília, o Jânio…?

- Sala três.

- Obrigado.

Esbaforido, ele entrou. Empurrou a porta da sala três e aí estava Jânio, seu chefe, e mais quatro pessoas. Era alguma reunião tardia. Um homem, mais ou menos seus trinta e poucos no lado direito da mesa e outros dois no lado esquerdo. Um deles era mais velho, algo em torno dos cinquenta. Os três estavam com bons ternos. Na ponta da mesa de vidro, de frente para a porta, estava Janio, com sua barba farta e seu porte de quem não sai da academia.

- Cleber? Não esperava ver você aqui hoje… Veio pelo pagamento?

Ele parou próximo à porta. Eram quatro. Refletiu rapidamente e sorriu.

- Sim. O pagamento. - Passou o trinco da porta atrás de si. - Me diga uma coisa. Você sabia?

- Sabia o que? Era só mais um trabalho. Você fez a entrega?

- Eu não sou entregador. Sou cobrador. E vim aqui cobrar de você. - Ele tirou o facão e, enquanto os quatro homens lhe olhavam para ver o que ele faria, ele pôs o pé na mesa de vidro e a empurrou com toda a força que tinha pressionando a Jânio contra a parede. O homem que estava à direita meio que por instinto, avançou na direção de Cleber que, sem piedade, enfiou o facão no meio do estômago dele. Puxou-o pelo ombro direito e forçou a faca mais para dentro e depois o empurrou no chão. Quando caiu, o homem deixou um maço de cigarros e um isqueiro cair do bolso. Os dois outros homens também se precipitaram para Cleber que se esquivou de um golpe retalhou o rosto do primeiro com um corte que foi do olho até o queixo e, em seguida, avançou para o segundo, o mais velho, que lhe deu um soco no rosto e depois outro. Cleber não parou. Recuou um passo quando vinha o terceiro golpe e, enquanto puxou-o pelo braço que havia tentado golpeá-lo, enfiou o facão de baixo para cima no queixo. Puxou o facão e enfiou na nuca do outro rapaz que havia sido anteriormente retalhado. Em menos de dois minutos, os três homens estavam mortos, misturando seu sangue ao carpete.

- Senhor Jânio. - Disse Cleber enquanto abaixava para pegar os cigarros e o isqueiro. Jogou os cigarros sobre a mesa. - Deseja um último cigarro?

- Mas o que você fez? O que você vai fazer?

- Eu fui cobrador da empresa por tempo demais. Mais tempo que deveria. Você deveria ter me aposentado quando eu pedi. - Cleber se aproximou de Jânio. Pegou sua faca e, sem nenhuma explicação, nenhum sinal no rosto, nada mais que um rápido movimento, enfiou a faca na garganta dele pelo lado. Puxou-a e foi até a cortina. Acendeu com o isqueiro e olhou o fogo começar enquanto limpava o facão no paletó de seu ex-chefe. Guardou-o.

- Amanhã não precisa me pagar. - Disse antes de sair. Marília já havia ido quando ele saiu. Nunca saberia o quanto ou o que ela haveria escutado.

Ao sair, a garota ainda lhe estava esperando. Levou-a para sua casa. Explicou a sua esposa que havia pedido demissão. Também disse que a garota tinha perdido a família num acidente e que estava grávida. Mentiu dizendo que ela era filha de uma ex-colega do trabalho e que estava precisando de ajuda. Após uma longa conversa, sua esposa entendeu e aceitou.

A garota ajudou trabalhando nos negócios de Fabíola e, como suas filhas já estavam grandes, ela seguiu morando com eles. Batizou o menino que nasceu de Cleber, em homenagem a seu salvador. Cleber não voltou a ser o cobrador. Mas também nunca deixou de sê-lo...



sexta-feira, 1 de abril de 2016

Se...



Se a cabeça não doesse tanto
Se minha perna não fosse tão curta
Se não houvesse contido meu pranto
Se minha vista não fosse tão turva

Se eu houvesse saído do canto
Se ao mudar eu seguisse a curva
Se minha noite tivesse acalanto
Se eu não fosse aquele que surta

Se diferente pensasse em vida
Se eu pudesse fazer outra vez
Não deixaria minha alma detida

Libertaria do lobo de vez
E trataria deixá-la ungida
Sem a prisão de quiçá ou talvez