terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Luz




Eis que um dia surgiu por dentre as carcaças de concreto
Uma mulher vestida da noite, das cinzas e do pó
Levava consigo consigo um livro sobre o que é certo,
um manto simples, um rosto frágil e uma garganta em nó.

Trazia também uma luz. Não qualquer luz, decerto,
mas sim uma que tinha um brilho como de um faraó.
A todos luzia não importando se longe ou perto,
Produzinhdo uma sensação de pureza, entendimento e dó.

Adentrou pelas vias e pessoas, como se em um deserto,
Mostrando-se mulher completa: filha, neta, mãe, esposa, avó,
Sua forma resplandecia a cada passo dado, a cada peito aberto
E sua luz bramia em meio a todos, jorrando bênçãos e amor

Em meio ao caos, trouxe ordem e ao preso tornou liberto.
Parou doenças com sua luz, e seu caminhar agrandou até o menor.
Expulsou demônios, alegrou aos tristes e germinou o que era infértil.
Mostrou verdades e proclamou justiças, curou feridas e cólicas.

Ao final, prostou-se na praça e com seu manto se cobriu.
No começo, todos olhavam em respeito e amor aquela figura
descansando, animando-se e vislumbrando como a uma chuva de abril,
e coletando sustendo e alegria, paz e sossego de sua luz pura.

Aos poucos veio, então, a sede e fez aos primeiros buscar cantil.
Então, pungente veio a fome, levar aos seguintes como fúria.
Outros e foram por descrenças, desavenças e sentimento infantil,
e depois por inveja, mentira e toda a forma de injúria.

Passado não muito tempo restou uma menina apenas que não partiu.
Pequena, frágil singela e maltrapilha, não queria nem paz nem cura,
nem nada do mundo dos demônios ou dos anjos, nem do bom nem do vil.
Seu desejo pertencia ao ontem, ao hoje e ao amanhã, ao novo e ao senil.

Lendo seu coração, seu espírito e sua mente, a mulher se levantou e sorriu
E a frágil menina se fortaleceu e sua aura ficou de uma vez pura.
Resplandeceu e se acercou da mulher que lhe entregou sua luz e sumiu.
A menina então adentrou à própria luz e caminhou pelo mundo segura.


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Ciclo




Vezes me sinto como entre o túmulo
Sombrio da noite densa, fundo, tétrico
E um nascedouro de bebês coléricos
em fome ávida de vida e rumo.

Nessa divina epifania viva
Sinto que sou como espada em forja,
Entre martelo e bigorna vívida,
resplandescendo com pancada forte.

Viver, nascer, morrer... Ultrajes réplicas
de correntezas somos! Vida, rápida e
vã, melancólica e traiçoeira réptil!

Porém, sua íntima amiga, morte,
tampouco atrai. Com artifícios débeis
sigo no ciclo desses dois consortes.